30.9.14

#DL - Wicked!

tema de setembro: MÚSICA

Gente louca tem dessas: em vez de pegar um livro propriamente dito, lê o script do musical "Hedwig and The Angry Inch", de John Cameron Mitchell. Para quem estava empacada na leitura de "A Mandrágora" (sim, a peça) há dois meses, terminar um libreto completo foi mais que um luxo. Porque Hedwig é mais que um luxo. Ela é luz... tome nota, Leslie Pierce!!!

Uma alemã oriental que tem uma troca de sexo mal sucedida nos anos oitenta, se muda para os Estados Unidos, é abandonada pelo marido e vira baby sitter/compositora? Hmm.

Assisti à peça com Neil Patrick Harris na Broadway em julho*, e só ele mesmo - e muito rock! - para me impedir de chapar no dia que eu estava só a capinha do Batman... Chegada há poucas horas do Hemisfério Sul, bati perna na Times Square, encarei a fila do TKTS num calor do cão, comi, fui à matinê, passei no hotel para tomar banho, botei um vestidinho e TCHA-RAN! Valeu a pena.

Não é pouca coisa não. Os prêmios Tony deste ano elegeram Hedwig como o melhor revival (o de 2013 foi "Pippin", que vi na sessão das duas), NPH o melhor ator e a melhor atriz, Lena Hall.

Yitzhak: marido, back up singer e roadie

Ah, Lena! Lena é Yitzhak, que é Krystal, que é basicamente Lena (uma menina talentosíssima) de peruca loira. Assim como Neil é Hansel, que é Hedwig, que é Tommy, que é Neil. Quase a trama de "Cambaio" outra vez: uma pessoa dentro da outra, dentro da outra. Mas a peça fala sobre muito mais.

Assim são as estrelas na vida real. Lindinhos.

Amor próprio, aceitação, igualdade, maturidade. O bis da canção "Wicked Little Town" é de arrepiar até os pelinhos mais finos das costas. E, como bônus, o libreto traz ainda trechos do Evangelho de São Tomé e de um discurso de Aristófanes. Chique.

Chiquérrimo. E recoberto em glitter.


* para os que não tiveram tempo de ver o lado trans de Barney Stinson, o ator Andrew Rannells dá vida à protagonista até o próximo dia 11 - depois disso... CORRE, MEU POVO! que o papel passa para as mãos e as plataformas douradas de Michael C. Hall (o Dexter da série de TV!!!), nas quais fica até 04 de janeiro.

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29.5.14

#DL - Sobre elefantes e agentes secretos

*Nota da autora: perdi tudo que havia escrito aqui, então terei de começar de novo. Talvez a empolgação falhe um pouco - sejam solidários à minha dor! HEHEHE* 

tema de maio: BICHOS!

(Valia qualquer animal. Como não sou consumidora de Marleys e afins, porque já basta eu me esbugalhar de chorar vendo os filmes, achei um único título que se encaixava no perfil... de Agatha Christie! E o livro, comparado aos "tijolos" dos meses anteriores, era fininho. Delícia.)

Em Os Elefantes Não Esquecem, Dame Agatha arranjou um alter-ego - a escritora de romances policiais Ariadne Oliver - para viver a aventura junto ao já querido inspetor Hercule Poirot. Os bichos do título não são bem bichos, nem aparecem (propriamente ditos) na trama. Mas vale a metáfora: seres quase pré-históricos que se lembram de tudo. A trama é singelinha, só um caso de disse-me-disse no passado da mocinha, com direito a noivo apaixonado e sogra encrenqueira.

Ariadne Agatha Oliver Christie (na versão televisiva)

Devo dizer que matei a charada lá pelo meio do livro, mas continuei para confirmar que era aquilo mesmo. Era. Nesta obra, Agatha Christie não joga nenhuma bola de efeito, como às vezes faz. Não é realmente um de seus best sellers... e daí?

Aproveitei o embalo e o prazo (um mês por livro) que estava longe de acabar, continuei no clima e encarei um dos "Mistérios dos Anos 40" que ganhei de mamã e papá no Natal, o simpático M ou N?. Um casal de meia-idade, agentes secretos tão secretos que nem os filhos sabem o que eles fazem da vida, sai de sua vida pacata para embarcar em uma missão durante a Segunda Guerra Mundial. A Quinta Coluna, os alemães, espiões e traidores já fariam da história um bom entretenimento mesmo que não fosse instrutiva.

Resumindo (post requentado é assim): sou fã e, quando crescer, quero escrever igual a ela. Incluindo os livros menos badalados. Para mim, she can do no wrong!

9.5.14

#DL - Ma dai, Roberto!?!

tema de abril: HYPE DO MOMENTO

(Já vi uma palestra sobre Dan Brown ser intitulada "Má literatura de alta qualidade". Eu, particularmente, prefiro chamar de "Harry Potter para adultos". O cara escreve, diverte e vende bem. Por que não lê-lo?)

Pois bem. Robert Langdom continua o mesmo. Rodando enlouquecido por uma cidade maravilhosa, cada vez acompanhado de uma mulher mais fascinante e misteriosa que a anterior (Alô, Sr. Édipo, favor comparecer ao balcão de informações!), e sempre atrás de uma obra de arte que lhe explique o sentido da vida. Desta vez o cenário é Florença, a companheira de aventuras é uma médica inglesa superdotada, e a obra é A Divina Comédia de Dante. A diferença está em uma inexplicável amnésia, e no fato de o próprio governo dos Estados Unidos estar à sua caça. Ou não.

"O poeta não morreu, foi ao Inferno e voltou"

Desde que li "O Código da Vinci", creio que a maior graça dos livros de Mr. Brown seja conhecer os locais visitados. A pesquisa de locações (por assim dizer) do cara é excepcional... e a trama enrola-e-desenrola, embora atraia a atenção do leitor, para mim acaba ficando em segundo plano. Inferno não foge da fórmula: vamos juntos numa corrida maluca para salvar o mundo. Se a motivação não for nobre o suficiente (e, neste livro, é), a paisagem fará tudo valer a pena. Minha cereja no bolo - ATENÇÃO! POSSÍVEL SPOILER - foi a passadinha relâmpago por Veneza, mesmo que tenham reduzido a cidade à Basílica de San Marco.

Agora, sinceramente, os casos platônicos do protagonista já deram o que tinham que dar. As langdom girls, que são pouco mais que bond girls com cérebros, aparecem no começo do livro e somem para sempre no final. Blá blá blá. São lindas, deixam o cara com as calças na mão, posam de vítima, dão um selinho nele e vão embora. Sem graça, hem?

Se até 007 se casou, acho que estava na hora do Professor Langdom ter uma parceira à sua altura. Alguém com menos forma e mais conteúdo. É só uma dica.


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1.5.14

'Bora trabalhar

Maio, mês de muitos começos na minha vida. Em 01/05/1982, minha família chegou a Brasília. Na noite de 28/05/1994, ao me apresentar no mítico Carnegie Hall de Nova Iorque, fui pega pela "mosca azul" na primeira viagem de coral das várias que fiz pelo mundo afora. Em 31/05/2001 encerraram-se minhas aulas da pós-graduação. Dia 21/05/2012 voltei (de vez?) a morar em São Paulo.

Aproveitando, então, esta conspiração universal para que os maios sejam turning points em meu caminho, lanço a mim mesma um desafio; ou melhor, dois:

- escrever algo todos os dias. Sim, começando hoje! Lista de compras e mensagem para os amigos não contam. Tem que ser um textinho - seja narrativo, descritivo ou dissertativo (e viva os professores de redação no segundo grau, KKKK) - ficcional ou não, para malhar meus músculos autorais. Espero que até o fim do mês não doa mais tanto.

- preparar um convescote em casa. Adoro receber os amigos, e o apê de Santa Cecília merece ser ocupado pela gente fina, elegante e sincera que me cerca. Não sei como nem quando (em qual dia exato), mas vou começar a agitar uma baguncinha qualquer. Se der certo, quero repetir o evento mensalmente.

Bom... agora vou deixar de promessas e arregaçar as mangas. Tenho muitas estórias e histórias para contar, uma casa e duas filhas felinas para cuidar, e um chuveiro quentinho me esperando antes de começar o rebuliço.

23.3.14

#DL - Desconstruindo Bradley Cooper

tema de março: FILME OU LIVRO?

(Mais um da séria série "Ganhei e Levei Um Ano para Ler".)

O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick. No original, Silver Linings Playbook. Quando assisti o filme - e gostei muito, diga-se de passagem - impliquei com a tradução do nome. Mas esta sou eu, implicando com títulos em português desde 1986. No Brasil não temos a expressão in every cloud there is a silver lining, tampouco a tradição dos playbooks. Tática aqui é combinada da boca para fora mesmo, e ver "o lado bom" das coisas é muitas vezes consequência do "pão e circo" que a gente vive.

Ops, fiquei política. Vamos voltar ao livro!

Para quem foi ao cinema e ficou arrebatada pela interpretação de Jennifer Lawrence, é bem difícil ignorar o elenco do filme. Ou os inconvenientes olhos azuis de Cooper, que o transformam em um galãzinho do subúrbio em que a trama é centrada. Pat Peoples deveria, no meu entendimento de leitora, ser um homem de aparência comum, o amigo-problema que todo mundo receia contrariar, bombado por quatro anos (e não oito meses!) de malhação frenética.

A idade de J-Law também foi um problema. Porque, cada vez que eu fechava o livro e via a menina na capa, tinha uma recaída e perdia a Tiffany trintona e viúva da minha imaginação.

Para todos os efeitos, eu me esforçava em visualizá-la uma espécie de Courteney Cox. No papel de Pat, Jonathan Rhys-Meyers (repito, "torado" na academia) com lentes castanhas. E para Pat Sr., acho que deveria ser escalado alguém mais anglo-saxão, como Brendan Gleeson. Seria mais fácil do que conceber um italiano (que identificamos como latino, passional, expansivo) que não fale com seu filho durante 90% da história e se comunique com a esposa por meio de bilhetes. Aliás, originalmente eles são irlandeses.

Outra coisa: o futebol americano é uma grande parte da narrativa. Quase um documento histórico da temporada dos Philadelphia Eagles, e mais uma mostra da inadequação do protagonista ao mundo em que todo o resto (do mundo?) vive... Ele esteve fora por quatro anos, não sabe o nome de nenhum jogador, mas torce loucamente porque seu pai, seu irmão, seus amigos, seu terapeuta, fazem assim. Going with the flow.


Hank Baskett, wide receiver dos Eagles de 2006 a 2009

Devo dizer que achei ainda que a ordem dos fatores alterou inteiramente o produto. Se, no filme, as pessoas são só meio maluquinhas, no livro são todos doidos de pedra. O desfecho da estória, para mim, não mostra luz no fim do túnel. Não que seja necessariamente ruim isto; na vida não há mesmo final feliz (ou perfeito) garantido!

Portanto, surpreendendo o senso comum - e minha própria opinião, na maioria das vezes - entre filme e livro, preciso escolher o FILME. O diretor David O. Russell fez algo raro (porém não inédito) no roteiro, que é melhorar o romance em que ele se baseia.

Mas eu gostaria que tivessem sido mais fiéis ao perfil original das personagens.

24.2.14

#DL - Brilha, brilha, estrelinha!

tema de fevereiro: JULGANDO PELA CAPA

(Catei aquele volume azulão com vistosas estrelas em amarelo-ouro que me esperava na cabeceira desde o Natal de 2011.)

foto de Renata Pinheiro, no Flickr

Marian Keyes é autora de vários livros de mulherzinha, como Férias, Melancia e Casório. Em A Estrela Mais Brilhante do Céu, ela volta a falar de relacionamentos, amor, família com o mesmo enfoque inicialmente naïf das outras obras, com a diferença de que aqui o personagem principal (mesmo que subentendido) é... um prédio: o número 66 da Star Street, onde (quase) tudo se desenrola.

Outro diferencial é que a estória possui um narrador externo que observa todos os apartamentos e seus moradores, à procura de algo que, a princípio, não sabemos. Confesso que, quando o objetivo (deste narrador) é finalmente esclarecido, exalei um sonoro "Oooow...". Consequência de se ler chick lit.

Ainda assim, considero que esse clímax leva capítulos demais para acontecer.  Nos outros livros de Marian Keyes, também os conflitos são apresentados mais cedo.

Sim, ela trata de assuntos sérios (como nos romances anteriores, nos quais aborda adicção, abandono e violência psicológica, pressões sociais), mas - não sei se por medo de pesar demais a mão, ou pela quantidade de tramas paralelas que tomam centenas e centenas de páginas - a parte mais cinzenta do enredo fica varrida sob o tapete até próximo do final e tem uma resolução, embora bem explicada, rápida e sem maiores aprofundamentos.

Acho que meu lado sádico se acostumou a ver as personagens de Keyes comendo o pão que o diabo amassou. Em "A Estrela Mais Brilhante..." há um sofrimento contido, internalizado. Não deixa de ser bom; apenas traz um ritmo diferente.

Se outras obras da autora seriam filmes deliciosos, dada a riqueza de todas as tramas presentes (que, em determinado ponto, se tornam sim necessárias), esta deveria ser transformada em série! 

Já aceito, de antemão, integrar a equipe de roteiristas.
Nem que seja para "saber" que fim levará - lá pelo segundo ou terceiro ano - a relação entre a irlandesa Lydia e o polonês Andrei. Ou para acompanhar as trapalhadas amorosas e sexuais de Fionn no interior.


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4.2.14

#DL - A desfrutável

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tema de janeiro: NA ESTANTE

(O pobre do livro possuía uma camada de poeira considerável, porque foi comprado numa promoção de "qualquer título por R$10" e prontamente colocado sobre a mesinha, ainda em Brasília. Moro há quase dois anos em São Paulo. Já era hora de alguém resgatá-lo!)

Pensei que Messalina - A Imperatriz Lasciva, de Siegfried Obermeier, fosse uma narrativa das incursões sexuais, aventuras, traições e escapadelas da protagonista. Sim, elas estão lá, mas em um grau menor do que se espera de uma obra que traz a lascívia já no título. Na verdade, sua condição de mulher do imperador Cláudio César toma uma grande parcela do enredo, que descreve planos e golpes de Estado (como a derrubada de Calígula) com detalhes.

arte de Victor Tchetchet (1945)

No seio do Império Romano, no qual homens e mulheres de destaque tinham amantes, desconhecidos e conhecidos, a pequena Valéria Messalina nasceu com curiosidade para o sexo. Nada demais para a época. A moça era filha mimada de um senador. O problema, pelo que conta o livro, era a falta de critério e de discrição. E as mentiras e tramoias para conseguir o que queria, na hora em que queria (do jeito que queria).

Quer dizer, num certo ponto, ela se entrega ao meretrício.
E resolve que quer-porque-quer um tal Gaio Sílio, homem bem casado e de vida (até então) tranquila.

São 569 páginas de muitas articulações políticas, vários capítulos dedicados à vida do Augusto Cláudio - o que são pontos positivos! - mas falta luxúria... sedução... fantasia, talvez. Às vezes o autor imprime alguma sensualidade no texto, mas logo se atém aos aspectos físicos e fisiológicos do "ato".

Sei lá. Me parece que uma mulher de sangue latino, cujo nome se tornou sinônimo de promiscuidade, devia gostar bem mais do rala-e-rola do que nosso biógrafo - historiador, alemão, homem - conseguiu ou teve coragem de transmitir. As personagens são fantásticas. Só precisam de um olhar mais caliente.

7.1.14

Desafio Literário (vulgo #DL)

Todo mundo olha para a minha cara e acha que eu leio compulsivamente.

Eu acho que leio pouco. Para quem pretende ganhar a vida com textos, então, leio pouquíssimo! Quando começo algum livro, sim, me empolgo e varo madrugadas... já consegui devorar quatro livros em uma semana de férias... mas, vai entender por quê, sou muito indisciplinada para começar. Necessito de um empurrão.

Aí descobri esse tal "Desafio Literário do Tigre", que propõe que se leia ao menos um livro por mês (a gosto do freguês), seguindo temas pré-estabelecidos. Eu precisava mesmo de um método para atacar as duas pilhas de volumes empoeirados nas mesinhas de cabeceira.

Então vambora!!! Apertem os cintos, que 2014 vai ser meio diferente por aqui.

Espero que se divirtam tanto quanto eu :)