2.8.09

En Provence

Quanto ao festival propriamente dito: em Cogolin, lugar cheio de ladeiras e histórias, fomos censurados pelo padre. Deu até notícia no jornal. No segundo dia, quando deveríamos ir à praia, chegou o vento Mistral e fomos proibidos pelo Maestro de fazer estripulias. Ou seja, soltaram a gente em Toulon e depois levaram para La Farlède, em que só conhecemos o Salão de Festas da cidade (e o primeiro de muitos coros de velhinhos que abriram os concertos do Coral). A terceira parada foi Aubagne, terra do ilustre Marcel Pagnol, autor de diversos livros que eu particularmente nunca li. Era um domingo e tudo estava fechado, mas o concerto foi um sucesso e a "after party" idem. Saímos com a polícia na porta após uma paellada com anticorpos diversificados e vinho rosé de caixinha (também um dos primeiros, entre vários). Em Flassans não vimos nada, exceto a igreja que não tinha toaletes (Pergunta: e se o padre tiver um piriri?). Ainda assim, apertos e rusgas à parte, a apresentação foi bastante aplaudida e fomos convidados para uma recepção à base de biscoito Mabel, Bis branco e sorvete Cornetto.

O quinto concerto foi em casa (nada como tomar banho com calma, pentear o cabelo, fazer maquiagem em um banheiro!) e dividimos o palco com o excelente coro jovem da Indonésia. Na volta, os guias organizaram um randêvuzinho, meia-boca mas muito simpático, com os grupos da Grécia e da Rússia - E ATENÇÃO MENINAS: CUIDADO COM OS RUSSOS, eles repetiam o tempo todo - que acabou às 2h00 em ponto com reclamação da concièrge e uma baixa clássica no nosso grupo ligada ao consumo de bebidas alcóolicas. No plural. Os que não deram PT* (*perda total) continuaram o forrobodó no apartamento 208. Na manhã seguinte tivemos um miniFestival do Lycée Maurice Janetti, com os 4 coros alojados aqui. Todos são bons, mas os indonésios são excepcionais mesmo.

À tarde mais um passeio foi cancelado, dessa vez ao Lago de Esparron, devido ao tempo nublado. Em compensação, nos 40 minutos que passamos em Saint Julien Le Montagnier (ou Montagné) antes de cantar, reviramos a cidade ao contário. Infelizmente a população não conseguiu encher a plateia (mas o som estava ótimo e muita gente saiu satisfeita com a performance). No dia 23, fomos sacaneados pelos técnicos de som e luz na Pedreira Paulo Leminski/Theâtre de la Nature em Allauch, mas resgatamos a boa fama do Brasil cantando, a dois passos do pequeno e pacato público, hits como "Berimbau", "Corisco" (na prorrogação; com demonstração de frevo by Carol) e "Carinhoso". O primeiro concerto em Marseille (12ème arrondisement, Igreja de São Barnabé) foi de gala, após um lauto jantar - com direito inclusive ao polêmico Pastis - e dentro de uma igreja fechada abafadésima!

Com um passeio a Aix-en Provence, algumas compras, muitos casamentos na rua e a consolidação do projeto 'Moema e o Proletariado', fizemos uma apresentação bucólica no Jardim Público de Saint Cannat (ainda que a refeição árabe oferecida não tenha caído bem em todas as barriguinhas brazucas). Praticamente de madrugada, fomos ao parquinho de diversões instalado downtown tomar cerveja fria no vento gelado. No domingo, fritamos três horinhas na praia de St. Cyr sur Mer - PAUSA PARA O BANHO NO CHUVEIRÃO DA ORLA E LIMPEZA DAS PARTES ÍNTIMAS COM LENÇOS UMEDECIDOS - antes de cantar para o mofo, os ácaros e a população de Saint Zacharie. Já o momento mais emocionante foi a volta a Marseille (9ème arrondisement, Mazargues), após a visita diurna à belíssima basílica de Nossa Senhora da Guarda, num concerto aberto pelas moças da Maîtrise Gabriel Fauré, onde fomos ovacionados por uma igreja cheia de gente fina, elegante e sincera: o casal gay da segunda fila, a senhorinha do canto esquerdo com a bolsa no colo, nossa espectadora de Cogolin (Anne) que deu origem à série de matérias sobre a censura do padre polonês, o cunhado do Trio Esperança, um ex-professor de Francês da UnB e brasileiros... sempre! E, por falar neles - ou em nós mesmos - o padre da paróquia seguinte, em Méounes, era de Anápolis. Tivemos mais uma farta comilança (dessa vez numa cave, servida pelo melhor buffet da cidade e com direito a visita à melhor padaria do Var), cantando após e junto (o Gloria de Vivaldi: "se vira!") a mais um coro de aposentados.

O aniversário de nossa "presi" foi um evento muito aguardado em Ollioules; não somente pela data festiva, mas também por ser o dia em que (despojados de nossos uniformes chiques, cantando em um Salon de Fêtes) teríamos o auxílio luxuoso do nosso guia e tchutchuquinho Benjamin no tambor africano para a interpretação de "Ponto de Oxum". Mais uma vez (e, dessa, a última) o brasileirinho Laurent e seu pai francês vieram assistir, despendindo-se com muita emoção da gente... Mas a farra não parou por aí! Nossa outra guia, Lili, trouxe um bolo - ou melhor, uma torre - de merengues/carolinas carameladas com creme para acompanhar o monte de amendoins, frutinhas e queijos que nós mesmos compramos para a festa de 31 aninhos da Lilian. O baticum foi um sucesso, até a concièrge aparecer mais uma vez, HEHEHE.

No penúltimo dia (30) tivemos um desafio digno do Sem Limite, já que passamos a tarde na praia e cantamos com calças brancas (tome lencinho); e mais! a capela 3x2 em que deveríamos cantar, na cidade de Gassin, ficava morro abaixo (ladeira e palquinho apertado: um e meio. eu: zero) e os banheiros, morro acima. Aliás, o concerto desse dia ficou para a história como cena do maior ataque de riso coletivo da tournée. Culpa do assobio da Márcia, que falhou, e do Moisés, que começou a gargalhar... E, para fechar com chave de ouro, tivemos um almoço-cortesia da diretoria - COM VINHO ROSÉ - e uma visita à vinícola de Triennes - VINHO BRANCO, ROSÉ E TINTO - antes de nos dirigirmos a Claviers para o último concerto. Liliane chorou, Ben chorou, nós choramos, a plateia chorou... não escapou um cristão (sim, foi dentro da igreja) sem um olharzinho marejado que fosse. Depois do dever cumprido, caímos num verdadeiro trotoir, numa celebração itinerante liceu adentro em honra aos deliciosos 1) dias de convivência e 2) vinhos comprados (vários destes também deviam acabar por ali).

É óbvio que, deixando o passeio mais-que-mal-sucedido que tivemos (eu e dois dos meninos) de lado, fizemos mais uma bagunça na noite do dia 1o... Já nem me lembro mais de como acabou a batucada, mas no dia seguinte embarcamos para Marseille e, de lá, para Lisboa novamente. Para fazer companhia aos chorões, o céu desabou uma chuva de respeito assim que pegamos a estrada. Ah sim, esqueçam o avião Pisco! A aeronave da volta se chamava Rola. Todo mundo teve que entrar nela (menos seis afortunados), literalmente. Aí, estendendo as celebrações mais um pouquinho (ô povo fogueteiro!), tiramos o dia para passear na capital lusitana - dois ou três grupos separados - e curtimos um - agora sim, todos juntinhos - excelente jantar-show de bacalhau ao forno e música portuguesa no bairro de Alfama.

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