17.8.12

Moço interessante - volume 3

(Porque o volume 2 – francamente! – cheguei a rascunhar, mas não publiquei)

Vinha eu, já adiantada na hora após um dia de fartas conversas sobre quem eu sou, quem quero ser e do que gosto, pensando no quão impossível seria encontrar alguém que despertasse meu interesse no metrô de São Paulo (o movimento estava fraco e eu concluí “ah, quem diz que isso acontece está só querendo tirar uma onda”) quando PIMBA! passou um carinha do meu lado. Gilberto Braga escreveria esta cena com ele esbarrando no meu braço e a trilha sonora se intensificando para eu prestar atenção nele, porém não chegou a ser o caso.

O moço era bombadinho (o que nunca foi meu tipo, mas este eu até apreciei, porque tinha uma leve tendência a ser gorducho) e tatuado (idem: normalmente não faz meu gênero). Aliás, bem tatuado: a tribal ia de um braço ao outro e ainda escapava pela gola da camiseta... Ele era branquelo e tinha um perfil romano, com cara daqueles imperadores que mandavam executar filisteu por esporte, sabe (ai credo, KKKK), e um cabelo máquina 2 assim meio arrepiado em cima. Curti no Facebook.

Eu, que já tinha que seguir viagem para o mesmo lado que ele, aproveitei para acompanhar aquele andar apressado mais de perto. Fui indo, né, e não é que ele se dirigiu para a mesma linha e para o mesmo sentido da minha casa? Apertei o passo e fiz a stalker louca. Encontrei um amigo, papeei com ele, sei lá, 10 segundos, até que o trem chegou e me coloquei frente a frente com o moço vagão adentro.

Procedi a investigação como manda o figurino: não havia aliança na mão esquerda, nem na direita (com qual carregava uma apostila sobre que não cheguei a captar mais detalhes), e ele parecia muito, mas muito, cansado. Lembrem-se, amados leitores, de que já era tarde. Quase caiu com a arrancada do metrô e, depois, por umas duas ou três vezes se desequilibrou com as curvas vigorosas do caminho. Foi impossível me conter num risinho, o que não acho que ele percebeu (aaahhhhh, que pena; teria sido uma boa oportunidade para engatar a conversa). Apesar do momento “final de mais um dia de cão” e da situação populesca em que nos encontrávamos todos, apinhados no Corinthians-Barra Funda, o perfume do rapaz ainda estava na validade – sinal de que, provavelmente, ele não usa genéricos e sim marca boa. Vendo-o assim cheirosinho e quase dormindo em pé, meu lado de boa samaritana quis lhe oferecer um colo, um bom papo, um cálice de vinho... Vocês entenderam. Todo mundo tem direito a delírios momentâneos, tá?

Voltei à realidade quando passamos pela estação Santa Cecília, onde, para o fim definitivo da minha carreira como vidente mística, ele não desceu. A próxima parada seria meu destino e, conforme percebi em seguida, o dele também! Aí o protagonista desta novelinha mostrou que queria chegar logo em casa (será que sentiu que estava sendo observado?) e acelerou a subida pelas escadas. Tentei ir atrás mantendo um mínimo de dignidade, dando graças a Deus pela invenção da escada rolante e pelo santo hábito do paulistano em deixar a esquerda livre para os demi-apressados como eu. Após uma rápida e discreta perseguição , finalmente descobri que o princípio dos 25 minutos pode ser uma realidade ao meu alcance. Ele mora a duas ruas da minha.

Bem. Acho que vou começar a fazer caminhadinhas pela vizinhança.

P.S.: A novela - volume 1 - do moço interessante tem capítulos aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

Nenhum comentário: