22.4.10

Desapaixonar-se

Um dia acontece algo entre você e aquela pessoa (que é, até então, do jeitinho que você pediu a Deus!) que a recoloca na condição de humano, ou humana, comum - reles mortal. Um impedimento, algum pequeno deslize ou talvez um defeito mínimo, uma característica menos divinal, lhe salta aos olhos. Os contatos entre vocês têm menos novidade, menos emoção. Vocês se distanciam; essa ausência, mesmo prolongada, não incomoda... O coração começa a bater menos forte e a cabeça vem dar as ordens no dia-a-dia: cuide de si, seja feliz sozinha, ame seus amigos, dê atenção a sua família. Sim, você está no processo.

Ao contrário da montanha russa que é se apaixonar e se entregar e se perder por alguém, vivendo cada momento como o único, essa “despaixão” se parece com um resgate detalhado e cauteloso. Cada instante é parte de uma série. Pé ante pé, você segue. Em certo ponto da estrada adiante, ele (ou ela) não estará mais nos seus planos.

É um desencantamento gradual e indolor. É como acordar de uma anestesia. Como se se perdessem, lenta e paulatinamente, os graus de miopia que deixavam a vida com uma aparência tão lúdica. O mundo, afinal, não é tão colorido quanto se pensava.

Aquela possibilidade de felicidade inexiste, mas você continua viva.

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