5.2.09

Injuriada

"Preconceito é opinião sem conhecimento." A frase, inspirada em Voltaire, era minha sorte no Orkut ontem. Curioso e cruel, presenciei (mais do que isso até; sofri!) no mesmo dia uma demonstração da ignorância humana.

Estávamos em casa vendo televisão (e esperando o homem da rede de segurança, que não apareceu) quando a síndica do prédio tocou o interfone para - enfim, vou resumir - tratar de um assunto do condomínio que, para mim, não tinha a menor importância, mas para ela parecia questão de honra. Combinamos que ela subiria ao meu apartamento para conversar. OBSERVAÇÃO: Até esse exato instante, a síndica me parecia apenas uma velhinha solitária e desocupada. FIM DA OBSERVAÇÃO. Qual não foi o meu espanto, abrindo a porta, ao escutar dela em tom de censura:

- Ué, você agora está criando gatos? (como se eu estivesse cultivando baratas!)

Respondi que não, era só uma pequenininha (nesse momento comportadíssima ao meu lado, o que é raro quando a porta está escancarada) e aguardei que a síndica passasse. Ela congelou do lado de fora. Eu ainda avisei, "se a senhora não entrar, ela sai", mas nada. Continuava olhando fixa para o meu bebê. Bem, peguei a Pepa no colo e a levei para dentro, fechei-a no quarto (a bichinha nem miou) e finalmente pude ouvir as lamúrias urgentísssimas que ela tinha a repartir comigo. Quase uma hora depois, com minha paciência finalizada e ressetada umas mil vezes, quando fiquei só, é que fui refletir sobre a cena na entrada do meu cafofo.

Vários moradores do bloco têm cachorros. Minha vizinha de porta tem 3 gatinhos de tamanhos e cores variadas. Virginia e Sofia habitam na prumada oposta à nossa, e sabe-se lá que outros condôminos têm animais, caninos ou felinos. Isto não deveria ser motivo para estranhamento!

Aí me toquei de que Perséfone é pequena, amorosa, ativa, bonita, brincalhona e preta.

Quer dizer, o zelador ter um papagaio (animal silvestre, cuja comercialização é ilegal), tudo bem. Um apartamento de 46m2 comportar 8 pessoas e um chihuahua, numa condição pra lá de anti-higiênica, tudo bem. Mas se eu tenho gato preto sou alvo de olhares horrorizados?

Quase liguei indignada para a síndica, para perguntar se ela por acaso não tomava manga com leite ou comia couve à noite. Ou ainda, se lavava o cabelo quando estava menstruada - enfim, talvez ela não se lembrasse mais deste fato. Ai, que raiva! Depois, desabafando com uma amiga, recebi a sugestão de assumir de vez meu lado bruxa afirmando, por exemplo, que eu asso criancinhas e fabrico veneno em casa - e imaginem se ela fica sabendo que minha irmã tinha um morcego no vidro de formol???

Crendices. Gente estúpida. E preconceituosa. Coisa feia.

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