23.3.14

#DL - Desconstruindo Bradley Cooper

tema de março: FILME OU LIVRO?

(Mais um da séria série "Ganhei e Levei Um Ano para Ler".)

O Lado Bom da Vida, de Matthew Quick. No original, Silver Linings Playbook. Quando assisti o filme - e gostei muito, diga-se de passagem - impliquei com a tradução do nome. Mas esta sou eu, implicando com títulos em português desde 1986. No Brasil não temos a expressão in every cloud there is a silver lining, tampouco a tradição dos playbooks. Tática aqui é combinada da boca para fora mesmo, e ver "o lado bom" das coisas é muitas vezes consequência do "pão e circo" que a gente vive.

Ops, fiquei política. Vamos voltar ao livro!

Para quem foi ao cinema e ficou arrebatada pela interpretação de Jennifer Lawrence, é bem difícil ignorar o elenco do filme. Ou os inconvenientes olhos azuis de Cooper, que o transformam em um galãzinho do subúrbio em que a trama é centrada. Pat Peoples deveria, no meu entendimento de leitora, ser um homem de aparência comum, o amigo-problema que todo mundo receia contrariar, bombado por quatro anos (e não oito meses!) de malhação frenética.

A idade de J-Law também foi um problema. Porque, cada vez que eu fechava o livro e via a menina na capa, tinha uma recaída e perdia a Tiffany trintona e viúva da minha imaginação.

Para todos os efeitos, eu me esforçava em visualizá-la uma espécie de Courteney Cox. No papel de Pat, Jonathan Rhys-Meyers (repito, "torado" na academia) com lentes castanhas. E para Pat Sr., acho que deveria ser escalado alguém mais anglo-saxão, como Brendan Gleeson. Seria mais fácil do que conceber um italiano (que identificamos como latino, passional, expansivo) que não fale com seu filho durante 90% da história e se comunique com a esposa por meio de bilhetes. Aliás, originalmente eles são irlandeses.

Outra coisa: o futebol americano é uma grande parte da narrativa. Quase um documento histórico da temporada dos Philadelphia Eagles, e mais uma mostra da inadequação do protagonista ao mundo em que todo o resto (do mundo?) vive... Ele esteve fora por quatro anos, não sabe o nome de nenhum jogador, mas torce loucamente porque seu pai, seu irmão, seus amigos, seu terapeuta, fazem assim. Going with the flow.


Hank Baskett, wide receiver dos Eagles de 2006 a 2009

Devo dizer que achei ainda que a ordem dos fatores alterou inteiramente o produto. Se, no filme, as pessoas são só meio maluquinhas, no livro são todos doidos de pedra. O desfecho da estória, para mim, não mostra luz no fim do túnel. Não que seja necessariamente ruim isto; na vida não há mesmo final feliz (ou perfeito) garantido!

Portanto, surpreendendo o senso comum - e minha própria opinião, na maioria das vezes - entre filme e livro, preciso escolher o FILME. O diretor David O. Russell fez algo raro (porém não inédito) no roteiro, que é melhorar o romance em que ele se baseia.

Mas eu gostaria que tivessem sido mais fiéis ao perfil original das personagens.